E se esvai no momento seguinte...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Cap. 5 - A viagem

Mais ou menos um mês depois, era final de tarde, e eu saí na surdina pois eu não queria despedidas. Eu cheguei a trocar algumas palavras sem propósito real com ele, assim como "Como vai?", "Quando viaja?", "Como está a sua mulher?". Nada que eu disse foi o suficiente para transparecer o meu real desejo de fugir, tanto da máscara, quanto dele e do que eu não queria sentir.

Chego na ferroviária e pego um trem meio vazio... Foi por isso que escolhi viajar ao meio-dia. Nada de trajes refinados para a viagem para não deixar transparecer quem eu costumava ser. Apenas um vestido simples de algodão cru, com uma cor de velho e um chapéu tosco, algo que achei suficiente para não me reconhecerem. Eu estava sem a máscara pela primeira vez em público e assim parecia uma forasteira. Me sentei no lugar mais longe possível das pessoas, no fundo do vagão e do lado da janela.

Coloco minha trouxa de roupas entre as minhas pernas, protejo o rosto do Sol e penso nele:

"A brisa bagunçava levemente os cabelos das pessoas, ele sorria, eu olhava pra ele com aquele olhar de apaixonada, totalmente horrível, boba, idiota de tão apaixonada. Ele estava conversando com os colegas de trabalho dele na praça principal desta cidade ao norte de onde eu vim. Enfim, eu vou fugir de novo. Ele ri de um jeito agradável, me faz sorrir por dentro..."

Acordo em uma das estações, tem um ragazzo pedindo se poderia se sentar ao meu lado. De cara fechada eu olho ao redor e constato que não existem bancos vagos além do meu. Com uma expressão fria eu digo à ele: "Pode se sentar", faço uma cara com um misto desprezo e ameaça, e ele segura o riso e finge que tosse, sentando-se ao meu lado sério... Eu só queria que ele não falasse comigo! Queria ficar invisível! E me perco em meus devaneios...

Até que acordei e percebi que o ragazzo estava quase dormindo nos meus ombros...

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Continua em O Outro

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